Dirigentes reforçam rede e inovação no movimento mutualista

“É unindo forças, trabalhando em rede, criando sinergias, partilhando conhecimento e cooperando, em vez de trabalhar apenas nas nossas conchas, que o mutualismo jamais morrerá.”
Foi com estas palavras que o presidente da União das Mutualidades Portuguesas (UMP), Luís Alberto Silva, abriu o XIV Encontro Nacional de Dirigentes Mutualistas, que reuniu dezenas de dirigentes e representantes de mutualidades de todo o país na Casa da Mutualidade, em Coimbra.
O dirigente sublinhou que o encontro representa “uma oportunidade para partilhar experiências, aprender, inspirar e projetar o futuro”, num contexto que considera particularmente desafiante: o envelhecimento populacional, as desigualdades no acesso à saúde, as pressões sobre a proteção social e o aumento do isolamento e da solidão.
“É precisamente nestes cenários que o mutualismo se torna indispensável, oferecendo soluções humanistas e solidárias”, afirmou, defendendo uma atitude mais proativa do setor: “Temos de ser humildes e reconhecer que nem sempre estivemos suficientemente presentes ou ativos, e em muitos momentos esperámos em vez de agir. Com este evento queremos dar um sinal de que começamos a mudar essa narrativa e a assumir o protagonismo que nos cabe.”
Luís Alberto Silva recordou ainda que o mutualismo “é a mais antiga escola de solidariedade organizada”, representando instituições com séculos de história que “resistiram a pandemias, guerras, crises económicas e políticas”.
“Somos empreendedores sociais natos. Onde outros veem problemas, os mutualistas criam soluções. Não somos seguidores: somos atores, protagonistas, visionários”, concluiu o presidente da UMP, citando Cícero Galvão, que já afirmava que “o mutualismo não morreu nem morrerá”.
A importância da cooperação foi também reforçada por António Martins de Oliveira, presidente do conselho de administração d’A Previdência Portuguesa, que deixou um aviso claro: “Se nada for feito, parte do movimento mutualista vai ficar pelo caminho.”
“Ou trabalhamos em conjunto e em rede, ou vamos enfrentar graves obstáculos que ditarão o fim das mutualidades. Temos de criar sinergias, envolver os jovens e divulgar o espírito mutualista, que é social, não político”, defendeu.
Mutualidades em Ação:
experiências e inovação no terreno
O painel “Mutualidades em Ação: Experiências, Desafios e Oportunidades” trouxe ao XIV Encontro Nacional de Dirigentes Mutualistas exemplos inspiradores de mutualidades que inovam em diversas áreas — da saúde à educação, da proteção social à inclusão.
Alexandre Lopes, presidente da Associação de Socorros Mútuos de São Mamede de Infesta, relatou a transformação estratégica da instituição após recuar numa candidatura ao PRR à construção da uma Unidade de Cuidados Continuados: “Foi um passo atrás para dar dois em frente”, projetando, agora, uma nova unidade de medicina de reabilitação física, orçada em cerca de 4 milhões de euros. A aposta feita nos últimos anos nesta especialidade fez a faturação da Climutua crescer de 1 milhão para 2,3 milhões de euros, ampliando o atendimento de 200 para 800 utentes diários.
Armanda Pereira, presidente da Associação de Socorros Mútuos Freamundense, partilhou o caminho de recuperação financeira da instituição, que aumentou a capacidade de creche (de 42 para 138 lugares, adaptando salas de pré-escolar e outros espaços do seu centro infantil) e modernizou e equipou de novo as suas infraestruturas (revestimento do edifício a capoto, substituição de caixilharia, renovação da lavandaria, cozinha e outros espaços) com recurso a fundos do PRR. “As dificuldades também nos movem”, afirmou, salientando que o investimento de mais de 100 mil euros foi feito sem recurso à banca.
Da Mutualidade de Santa Maria, Luís Miranda destacou o papel pioneiro da instituição na formação profissional e inclusão de imigrantes. Com mais de 45 mil horas de formação anuais e 750 formandos por ano, a mutualidade já apoiou 228 cidadãos estrangeiros e, através do seu Centro Qualifica, contribuiu para o reconhecimento de competências de mais de 2.200 pessoas. O futuro da instituição passa pela criação de respostas aos idosos e pelo serviço online na sua farmácia social.
Já Nelson Silva, presidente da Mutualista da Covilhã, trouxe o exemplo de uma mutualidade do interior que se tem reinventado e conquistado 22 prémios nacionais, “com foco na solução e não nos problemas”. Entre os projetos em curso, destacou, na área da saúde, iniciativas em telemedicina e medicina preventiva, na habitação a construção de 35 apartamentos, sem barreiras arquitetónicas e com serviços de apoio domiciliário associados, além da aposta nas migrações como via para garantir sustentabilidade (recursos humanos) e rejuvenescimento da base associativa (dois terços dos novos associados são imigrantes com menos de 50 anos) e nos regimes complementares de segurança social, fruto da sua ligação à Mutuália. “Não podemos ter medo de inovar, de fazer diferente”, foi uma das mensagens que deixou no evento.
No encerramento do encontro, o vice-presidente da UMP, Luís Cristina de Barros, sintetizou o espírito das intervenções: “Ficou absolutamente claro que o mutualismo cresce quando decide fazer, investir e inovar e quando não se resigna perante as dificuldades”. E deixou o compromisso da UMP em ajudar as associações mutualistas nesses desafios.
Confira a reportagem fotográfica do XIV Encontro Nacional de Dirigentes Mutualistas AQUI.
publicado em 27-10-2025 | 15:12









